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Cyntya Verçosa, 45 anos, Recife

Cyntya Verçosa é, hoje, a estilista que mais assina noivas por fim de semana no Recife. Com a agenda cheia, atende cada uma de suas clientes que também são futuras madrinhas, formandas, debutantes e mães de noivas e noivos. Ela me recebe no ateliê, que ocupa uma unidade de um prédio na Beira-Mar de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes.

 

Vestidos de noivas ocupam quase todas as paredes e, na varanda, há um pequeno palco onde acontecem as provas. Os modelos à mostra são os disponíveis para aluguel - serviço que passou a oferecer em 2014, após perceber que “a crise ia chegar”. Enquanto os vestidos são cheios de tules, pedrarias, transparências e bordados, a estilista é mais minimalista, tanto na forma de falar, clara e calma, quanto nas roupas que veste.

 

Se atualmente é um dos nomes mais requisitados para vestidos de festa na cidade, a moda surgiu primeiro como um passatempo, no começo dos anos 2000. Contadora, decidiu abandonar a profissão pelas constantes viagens que dificultavam a rotina com a família. Começou a fazer bijuterias e bolsas para si mesma. Quando usava suas criações, conta que era instantaneamente bombardeada de perguntas e muitas vezes já as vendia na mesma noite.

 

O hobby foi virando um negócio e Cyntya, que sempre conviveu com avós costureiras, enveredou pelo caminho das roupas. “Comecei a fazer tops em galão, eram bem conhecidos no Recife. Depois,a fazer calças para uma loja. Eu tive algumas pessoas que acreditaram no meu trabalho e disponibilizaram espaços em lojas bacanas da cidade. Foi quando eu decidi fazer um curso de moda no Senac e uma das minhas colegas me incentivou a abrir uma loja com ela. Ela fazia as bijuterias e eu as roupas”, relembra.

 

Na mesma época, foram surgindo pedidos para que Cyntya desenhasse vestidos de festa. Um dia, ela decidiu fazer um desfile, convidando socialites do Recife, para apresentar seus modelos. Ainda sem experiência, produziu vestidos de noivas com ‘cara de vestido de festa’. “Eu fiz vestidos de festa brancos. Eu pensei ‘se eu não vender nenhum para noiva, tinjo, e vendo para festa’. Estava entrando nesse mercado, não sabia fazer esses vestidos estruturados. Achava que nem era capaz de fazer. Mas foi um sucesso. Não sobrou nenhum para contar história!”. A partir daí, começou a se dedicar ao universo das noivas.

Atenção, dedicação e clareza

Cyntya me explica, com um jeito quase didático, que todas as clientes que vão até o ateliê são atendidas pela própria estilista. A equipe conta com mais 14 funcionárias, que são modelistas, cortadoras, bordadeiras, costureiras e acabadeiras. Em média, entregam 35 vestidos por mês. A estilista desenha na hora o modelo para a cliente, apresenta os tecidos e faz o plano de corte.

 

O tempo para produção de cada peça varia de acordo com o pedido: para noivas, cerca de nove meses; formaturas, seis meses; e madrinhas, de três a dois meses. Ela conta que entrega os vestidos das noivas 10 dias antes do casamento, o que seria um diferencial e uma marca de seu trabalho - nada de improvisações. Ela filma cada prova, detalhando os ajustes que devem ser feitos, registrando para si e para as funcionárias os próximos passos da produção.

A estilista fala praticamente sempre em um mesmo tom, parecendo nunca se abalar com nada. Essa segurança que transmite deve ser um dos motivos de ser tão requisitada. Assim como durante a entrevista, ela também é bastante clara com suas clientes, mesmo que isso signifique que algumas fiquem “chateadas”, como ela define. Caso não sinta que o vestido ficará perfeito na noiva, de acordo com seu formato de corpo, altura e estilo, prefere não fechar o negócio.

 

Com a fartura de informações na internet, a maioria das noivas hoje em dia já chega até Cyntya com uma ideia quase pronta de como quer seu modelo. “Eu não digo que elas têm 100% a ideia pronta porque eu não copio ninguém. Eu perco até clientes por isso. Eu não copio nenhum estilista do mundo e, principalmente, os recifenses. Eu acho uma falta de respeito. Mas eu posso pegar como referência. Eu nem sei fazer igual a ninguém. Nem quero aprender. Eu quero fazer o meu”, apesar de decidida, passa gentileza em cada frase.

A honestidade de Cyntya é outra face da segurança que passa com suas palavras. Parece certa do que faz, mas também é sóbria o suficiente para admitir que erros acontecem. “Eu quero que me contratem porque eu sou boa. Não sou 100% boa. Todo dia eu aprendo, todo dia tem um erro aqui no ateliê, viu? Hoje de manhã eu estava estressada com uma casinha de colchete, para você ter uma ideia. E eu sou uma pessoa que aceita críticas”, fala.

 

A atenção da estilista com as noivas vai até, literalmente, a porta da igreja. A primeira cliente que contratá-la para determinado dia terá Cyntya ao seu lado até o altar. “Eu adoro! Sou inteiramente dela, para vestir, levar na porta da igreja. Para mim, é o momento mais especial de todos. Infelizmente eu não consigo vestir todo mundo num dia só. Às vezes, se um casamento é à tarde e outro à noite até consigo. Eu tento até que elas fiquem todas no mesmo hotel, e eu fico de cima para baixo tentando acompanhar!”, conta animada.

A criadora por trás das criações

Cyntya conseguiu tornar-se um nome forte não somente com sua marca, mas também como personalidade. Através do Instagram, mantém um relacionamento mais pessoal com suas clientes e consegue se colocar como o indivíduo por trás do selo. Algumas vezes, vestidos usados por ela mesma viram objeto de desejo. “Meu estilo Cyntya ‘pessoa física’ é o ‘ombro a ombro’ e decote em 'V'. É minha cara. E chegam clientes aqui que dizem ‘eu quero um vestido igual àquele que você usou’”, fala um pouco rindo.

 

Já em suas produções para o ateliê, mesmo que os modelos sejam feitos de acordo com o desejo das noivas, ela tenta deixar uma pequena assinatura em cada um: “A minha identidade é a delicadeza que eu faço nas rendas e transparências. Todo mundo comenta no Recife. Eu tenho cuidado em não deixar uma coisa muito chapada, gosto da coisa desconectada, dos galhinhos delicados...”.

Mais de uma vez durante a conversa, a estilista comenta que não segue tendências. “Quem trabalha com moda tem que olhar lá na frente. Quem olha o dia a dia estará copiando. Quem gosta de criar tem que pesquisar! Pela internet, em viagens. Não há uma viagem que eu não pesquise, que não entre em museu. Tudo isso é inspiração”, explica.

 

Mas as novidades, ela conta um pouco resignada, são difíceis de serem aceitas. “Por exemplo, estou fazendo uma flor para colocar no pescoço, tentei introduzir em algumas clientes e nenhuma topou. E quando eu mesma usar, muita gente vai querer. As pessoas gostam de usar só o que está vendo ser usado”.

 

“Eu sinto isso com vestidos de noivas: às vezes desenho uma coisa que a cliente não quer naquele momento. E, um ano e meio depois, ela volta falando sobre aquilo. Muitas vezes as pessoas só vão casar um ano, dois anos depois de vir aqui. E quando eu desenho tenho que ter essa visão. Tem gente que não tem”, completa do mesmo jeito calmo, assertivo e didático do começo da conversa.

Cyntya Verçosa - Foto: Ricardo Policarpo/Divulgação

© 2017 - Made in Pernambuco por Marília Gouveia

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