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Cris Moura, 25 anos, Recife

Uma moda jovem feita para espíritos jovens. É assim que Cris Moura define sua marca homônima, criada em 2014. São peças com modelagem ampla, confortáveis, em malha e tecidos práticos, com cores sóbrias, telas e transparências. Após alguns desencontros de agenda, encontro o estilista de 25 anos em um café na Zona Norte do Recife. A conversa começa pelo começo: Cris nasceu e foi criado no município de Moreno, na Região Metropolitana do Recife. No início do ano passado, se formou em Design pela Universidade Federal de Pernambuco.

 

A história remonta o final da adolescência, na época de pré-vestibular, matriculou-se em um curso técnico de Comunicação Visual. Foi quando descobriu o design gráfico e também o design de moda, incentivado por uma professora. A partir daí, começou a estudar o desenho técnico de moda e o mercado. Apesar de não ser um sonho de infância, desde criança já brincava em desenhar roupas ou escolher sapatos para a mãe.

 

Em 2012, entrou no mercado como assistente na marca Pina, do estilista Frederico Ferreira. Depois do estágio, passou um ano trabalhando com design gráfico - área em que atua até hoje. “Em 2013, eu participei do Moda Recife, ainda meio perdido, querendo agradar todo mundo. Mas aí em 2014 fiz minha primeira coleção, a loja virtual e amarrei mais o conceito da marca. A coleção de 2015, a Pictoplasma Adventure, foi minha primeira mais madura. Teve peças que super venderam e foi ali que eu fui desenvolvendo o que eu queria como marca”, conta.

 

Cris Moura ficou mais conhecido com seu lançamento de Inverno de 2016, a Cubo_3.0. A coleção trazia, pela primeira vez, a bandeira agênero - roupas que vestem tanto homens quanto mulheres. “Desde o começo eu queria trabalhar com uma moda urbana, jovem, para uma pessoa que vive na cidade. Essa é a essência da marca. A minha proposta sempre foi uma moda que não se prendesse a uma questão de gênero, ainda em 2014, mas não era proposital. Na época que eu fiz a Cubo_3.0, que foi a primeira oficialmente agênero, aconteceu o ‘boom’ do agênero em todo o mundo”, explica.

Cubo 3_0 - Foto: Reprodução/Instagram

Cubo 3_0 - Foto: Reprodução/crismoura.iluria.com

Cubo 3_0 - Foto: Reprodução/Instagram

Cubo 3_0 - Foto: Reprodução/crismoura.iluria.com

Cubo 3_0 - Foto: Reprodução/Instagram

Cubo 3_0 - Foto: Reprodução/Instagram

Cubo 3_0 - Foto: Reprodução/crismoura.iluria.com

Cubo 3_0 - Foto: Reprodução/Instagram

Cubo 3_0 - Foto: Reprodução/crismoura.iluria.com

“Hoje, não falo que minha marca é agênero, mesmo que ela seja. Procuro criar para pessoas que são modernas e de vanguarda. São pessoas que gostam da moda de agora mas também de coisas que estão mais à frente, que não está sendo usada ainda. Também acabei conquistando, até pelo meio em que vivo, a comunidade LGBT - é minha grande fatia de público. E eu até tento levantar a bandeira, mesmo intrínseca nas coleções. A Cubo tinha a questão do gênero, a LOVEisLOVE (amor é amor), a questão do  amor livre. A última [coleção] já tinha uma questão mais social, de ocupar a cidade”, completa.

 

Questiono se ele acredita que é também papel da moda instigar debates na sociedade. “Sim, eu acho. A moda acompanha a sociedade e tem que estar antenada na questão social. Não fazendo caridade, mas sim tentando de alguma maneira fazer com que as pessoas reflitam sobre aquele momento. Não é essencial, cada um faz o que quiser fazer, mas é importante”.

 

As inspirações para as coleções, consequentemente, vêm de todos os lugares: “Eu estou sempre à deriva: pensando em tudo, olhando tudo. Assistindo filmes, ouvindo música. E também tem a questão do tato, sentir um tema bom, uma tendência que vai bombar, um movimento que vai surgir. Por exemplo, agora está muito em voga essa coisa de esportes radicais - coisa que eu coloquei na coleção de Inverno. Também observar pequenas marcas ‘gringas’. Quem traz o novo é a gente, que tá começando agora! Então é um processo natural, eu vou pegando referências do que está acontecendo agora e vejo o que vai explodir daqui a seis meses ou um ano”.

Uma moda para todos

Quando entrei em contato para a entrevista, sugeri que nos encontrássemos no ateliê. Com a resposta, fiquei sabendo que Cris não tem ateliê próprio. Toda a criação, estampas, modelagem e bordados das peças são feitas em sua casa, em Jaboatão dos Guararapes. A costura e a serigrafia das camisetas são terceirizadas. “Eu não tenho espaço para fazer nem grana para investir. É todo um ‘rolê’ maior de investimento. Quando é uma peça mais conceitual, que eu não vou fazer em grande escala, já faço tudo com a costureira”. As coleções são divididas entre a loja virtual e um espaço na loja colaborativa Etiqueta Verde Store, no bairro do Espinheiro, no Recife.  “Eu prefiro, hoje em dia, fazer uma coleção com 10 peças e ter como fazer a grade P, M e G”, explica.

 

Apesar de ser uma marca diferente do que vemos nas lojas de shoppings, Cris não considera que sua moda seja inacessível, tanto economicamente quanto esteticamente. “Eu pretendo fazer uma moda mais acessível possível. Mas a gente sabe que existe uma limitação de custo”, fala. “Minha moda é autoral, porque eu tenho uma proposta e uma história para contar nas minhas peças. Tem uma ou outra peça conceitual mas ainda assim comercial. Porque só conceito não vende. Tem que ter um equilíbrio”.

Cris Moura - Foto: Kal Ximenes/Reprodução/Instagram

Falando para o mundo?

Mesmo pregando uma moda universal, Cris revela que tem dificuldades em consolidar sua marca. Quando pergunto se é possível viver de moda em Pernambuco, a conversa começa a ter um tom mais ressentido. “Eu, por ser uma marca independente, que não ‘manja das oncinhas’ para fazer o investimento necessário, está sendo difícil. Eu não vivo da minha marca. Eu trabalho com design gráfico, dou consultoria, palestras… A marca tá começando a se manter agora, sabe? Mas aqui no Recife é muito complicado, principalmente pelo caminho que eu decidi seguir”, conta.

 

“Tudo que eu consegui de alcance nacional foi pelo reconhecimento do meu trabalho. Eu mesmo fazia o papel de assessoria de imprensa. Infelizmente, rola muito aquela coisa de ‘ah, é uma marca do Recife’, menosprezando. Até aqui no Recife mesmo, as pessoas não entendem que peça exclusiva é mais caro. Não rola só ter talento, tem que ter muito jogo de cintura e ser perseverante”, completa.

O mercado local também não ajuda marcas menores, segundo ele. “Não tem essa energia de tentar fazer alguma coisa nova. Não sei nem explicar direito. Teve uma época, no comecinho do Moda Recife, que parecia que ia engatar. Mas não foi. E tinha muita gente boa. Não tem mais eventos de moda aqui”. Faz muita falta? “Sim, mas não do jeito que era feito. Em outros lugares o negócio anda porque tem contatos comerciais, tem desfiles e feiras de negócio. É isso que falta, a questão comercial. Se não vender, não tem como pagar os boletos”.

Produção da coleção Adventure City - Foto: Reprodução/Instagram

Foto: Reprodução/Instagram

Foto: Reprodução/Instagram

Foto: Reprodução/Instagram

Coleção Adventure City/Inverno '17 - Foto: Andre Costa/Reprodução/crismoura.iluria.com

Foto: Andre Costa/Reprodução/Instagram

Foto: Reprodução/Instagram

Foto: Reprodução/Instagram

Foto: Reprodução/crismoura.iluria.com

Realismo

Nesse momento, já percebo um lado bastante pragmático no estilista. “Eu fui aprendendo ‘na tora’. Chega uma hora que você cansa de só soltar dinheiro e vender pouco. Eu decidi que tinha que me pagar, e isso meio que obriga a gente a olhar a marca como uma empresa. O glamour da moda é só pra quem vê de fora. Eu sempre fui ‘pé no chão’ e quando eu tirei um pouquinho o pé do chão, me ferrei”.

 

Fico curiosa e pergunto quando foi o momento. “Com a coleção Cubo_3.0, a agênero. Eu sinto hoje em dia que eu não soube aproveitar o número de vendas, que foi o melhor de todas as minhas coleções. Eu não soube administrar a grana que entrou. Mas eu vi que foi essencial passar por aquilo para voltar a pensar que eu nunca devo tirar o pé do chão, nem quando achar que devo. Tudo é aprendizado. Eu já errei e vou errar muito. E também acertar muito, se Deus quiser”, completa.

 

Por fim, conversamos sobre os planos para o futuro. As ideias, infelizmente, parecem não incluir mais o Recife. “Como profissional, eu acho que aqui já saturou, até pela estrutura. Meu plano nesse momento é ir para São Paulo e tentar novas vertentes. Sabe quando você sente que precisa se aventurar de novo? Sair do conforto? Tentar evoluir. Até pela internet hoje em dia você pode chegar em qualquer lugar do Brasil. Mas é mais fácil quando você já está em um lugar que tenha um alcance melhor. E aqui no Recife não tem. Os meios de comunicação que têm alcance nacional estão no sudeste. É um mercado bem complexo, de contatos… a meritocracia às vezes não funciona muito. Mas estou vivendo o agora, com bastante calma. Sempre pé no chão. Sempre”.

Coleção LOVEisLOVE/Verão '17 - Foto: Jonathan Wolpert/Cortesia

Foto: Jonathan Wolpert/Cortesia

Foto: Jonathan Wolpert/Cortesia

Foto: Jonathan Wolpert/Cortesia

Foto: Jonathan Wolpert/Cortesia

Foto: Jonathan Wolpert/Cortesia

Foto: Jonathan Wolpert/Cortesia

Foto: Jonathan Wolpert/Cortesia

loveislove

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Foto: Jonathan Wolpert/Cortesia

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